O acesso à saúde dos transexuais em portugal continua uma questão pendente nos programas do Ministério da Saúde…Este mesmo médico assume que não tem novos cirurgiões a trabalhar com ele e a aprender as suas técnicas. Quem fará as operações em Portugal no futuro?
Entretanto saem pontualmente notícias que vão dando alguma visibilidade a estas questões, embora ainda não consigam tratar os trans pelo sexo desejado e não pelo sexo biológico. Mudar de corpo é bem mais fácil do que mudar mentalidades.
04.11.2008 - 10h24 Lusa
O homem que é operado hoje no Hospital de Santa Maria para mudar o sexo para mulher é o quinto nos últimos três anos a submeter-se a este tipo de cirurgia naquela unidade de saúde, disse o cirurgião João Décio Ferreira.
Segundo disse à Agência Lusa o director do serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, realizaram-se nos últimos três anos quatro cirurgias de mudança de sexo de homem para mulher e três do feminino para o masculino.
O especialista referiu que “enquanto de homem para mulher a situação fica resolvida em uma cirurgia, a mudança de sexo de mulher para homem é muito mais demorada e exige uma série de intervenções”.
O indivíduo que hoje é operado no Hospital de Santa Maria, para mudar o sexo de homem para mulher, poderá regressar à sua vida normal dentro de três semanas, disse o cirurgião João Décio Ferreira.
Explicou também que uma semana após a operação o doente volta ao bloco para uma cirurgia rápida, de 10 a 15 minutos, e passados dois dias terá ‘alta’ clínica.
“Três semanas após a operação poderá estar a fazer a vida normal, depende da profissão, se não exigir muito esforço físico”, adiantou.
A cirurgia de hoje é, segundo João Décio Ferreira, “demorada”, entre quatro a seis horas, e terá a colaboração de um cirurgião geral, que vai retirar uma parte ao intestino delgado para ajudar na construção do novo sexo.
Por esta operação ser demorada e causar “muita perda de sangue”, outras cirurgias, como o aumento dos seios ou a redução da “mação de Adão” (laringe), são feitas posteriormente.
De acordo com o cirurgião plástico, a operação de hoje, a seu cargo, “envolve a remoção do pénis e dos testículos e a construção da vagina aproveitando a pele do pénis e parte da glândula para fazer o clítoris”.
Até chegar ao bloco operatório, o indivíduo que pretende mudar de sexo tem que fazer um longo percurso, que se prolonga por cerca de três anos.
Inicialmente, passa por uma consulta de Psiquiatria dedicada a este tipo de patologia, consulta que se realiza nos Hospitais de Santa Maria, da Universidade de Coimbra e Júlio de Matos.
“Passado um ano, quando há uma convicção, começa-se a fazer a terapêutica hormonal e depois o doente é enviado a outro centro para confirmar o diagnóstico”, disse o cirurgião, adiantando que o processo exige ainda uma autorização da Ordem dos Médicos (OM), sendo o único acto médico no país que carece deste tipo de licença.
Na OM, uma comissão nomeada pelo bastonário analisa todo o percurso clínico do doente e dá o parecer de acordo com as normas internacionais.
O cirurgião explicou, também, que o processo é longo, uma vez que é uma “operação irreversível, não havendo hipóteses de voltar atrás”.
Sobre os custos da operação, desconhece o valor nos hospitais públicos, mas adiantou que no sector privado varia entre 15 mil e 25 mil euros.
“Não é muito representativa na despesa total do Hospital de Santa Maria”, afirmou, adiantando que apenas tem conhecimento de que o único local do país, em termos de hospitais públicos, onde se faz este tipo de operações é naquela unidade de saúde.
Em Portugal e ao contrário do que se passa no resto do mundo, há um maior número de mulheres que querem tornar-se homens: uma média de três casos de mulher para homem e um de homem para mulher.
Como em outras especialidades, a cirurgia de mudança de sexo também tem lista de espera.
O director do serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Santa Maria tem 45 pacientes em acompanhamento: 30 que querem alterar o sexo de mulher para homem e 15 do masculino para o feminino.