Archive for Maio, 2008

Pacientes submetidos a terapia com cannabis apresentam reacção positiva

Mais de metade dos pacientes submetidos a tratamento com cannabis, na Catalunha, no âmbito de um programa pioneiro lançado em 2005, apresentaram uma reacção positiva e grande parte mostrou melhorias no seu estado de saúde.

 

O uso da cannabis como medicamento surgiu da “necessidade de tratar sintomas resultantes de patologias muito graves em que foi fraco o resultado dos tratamentos convencionais”, informou à Lusa a “Conselleria” (departamento) de Saúde do executivo catalão.

O Programa do uso terapêutico de cannabis na Catalunha foi lançado em 2005 e deu origem a dois estudos que consistiram em acompanhar doentes aos quais foi ministrado um medicamento fabricado com extracto de cannabis.

Um dos estudos piloto analisou o tratamento de dores em várias patologias, entre as quais a esclerose múltipla.

O outro debruçou-se sobre o tratamento das náuseas e vómitos induzidos pela quimioterapia e foi concluído em finais do ano passado.

Os pacientes com esclerose múltipla manifestaram “evidentes melhorias nas dores”, segundo os resultados divulgados à Lusa pela chefe do Serviço de Planificação Farmacêutica de Barcelona, Neus Rams.

“A proporção de doentes com dor intensa ou intolerável passou de 66 por cento no início do estudo para 35 por cento na última visita”, adiantou aquela responsável.

Um terço dos pacientes com náuseas no ciclo de quimioterapia prévio ao início do estudo não as sentiram nos ciclos sucessivos de tratamento. Continuaram com náuseas 67,7 por cento mas a duração e a intensidade diminuiu no final do tratamento. Os vómitos deixaram de se verificar em 21,7 por cento dos doentes.

Os 73,9 por cento que continuaram a sofrer esse sintoma foi também com menos duração e intensidade, segundo resultou do estudo.

Os pacientes seleccionados para fazer parte deste estudo foram pessoas em estado grave com doenças crónicas de grande evolução, com má reacção aos tratamentos habituais e baixa qualidade de vida.

O medicamento usado é um extracto de cannabis autorizado com o nome de Sativex. Este fármaco é permitido no Canadá como coadjuvante no tratamento da dor em pacientes com esclerose múltipla.

Neus Rams sublinhou que “esta iniciativa surgiu de uma necessidade social de uso terapêutico de cannabis” e que é “um estudo independente” promovido pela Administração Pública.

Os promotores consideram que a iniciativa foi “enriquecedora” e acham que seria positivo iniciar outros estudos do género. Até lá, os resultados dos estudos realizados permitem continuar a usar os tratamentos alternativos nos doentes que não reagem bem aos tratamentos habituais. n

Lusa

CD: revisto ou sem visto?

Código deontológico da Ordem dos Médicos revisto ou sem visto?

Hoje o Público anunciou algumas das alterações propostas pelo bastonário Pedro Nunes na sua revisão do Código Deontológico da ordem dos médicos (OM). Será que podemos chamar-lhe revisão? Ou será que se ficou por falta de visão?

Em relação à interrupção voluntária da gravidez o alheamento da realidade, não só portuguesa mas europeia e ocidental, é o esperado…Manter tal como está e ignorar o direito a escolher, mesmo quando a lei e o país já não o fazem e apesar da UE reforçar várias vezes ao longo da última década a sua oposição…

Na questão da identidade de género mais uma restrição e um retrocesso: em vez de se preparar uma maior flexibilidade e acesso aos serviços de saúde, a mudança de sexo restringe-se ainda e apenas a casos de diagnóstico de transexualidade e não poderá ser feita a pessoas que tenham sido casadas ou a menores, deixando de fora pessoas transgéneros e transexuais no acesso à saúde.

No caso da procriação medicamente assistida ficam propositada e homofobicamente de fora as pessoas de orientação sexual não heterossexual, por serem saudáveis e férteis. Apesar da constituição portuguesa afirmar a não discriminação com base na orientação sexual, a OM ignora-a e (sem)eticamente decide por si mesma.

Quando pensávamos que não poderia ser pior… a cereja em cima do bolo: os médicos podem cobrar um sinal do pagamento a doentes que não comparecem às suas consultas! O acesso à saúde, outro direito inalienável humano vira a cara e olha para o lado…para não ver nem rever!

 

Infarmed revela identidade de seropositivos

05.05.2008 - 15h15 PÚBLICO

Um processo do Infarmed movido contra um médico levou a que a Autoridade Nacional do Medicamento divulgasse o nome de dois doentes bem como o facto de serem seropositivos, avançou hoje Rádio Clube.
O processo prende-se com a queixa de um médico, contra o Infarmed, baseada no facto desta Autoridade ter recusado medicamentos para dois portadores de Sida. Três membros do Infarmed entenderam como uma ofensa a queixa do médico e avançaram com um processo no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Lisboa.
Mas, no processo, a identidade dos dois doentes não foi salvaguardada o que já originou uma queixa contra a presidência do Infarmed na Ordem dos Médicos, na Ordem dos Enfermeiros e no Ministério da Saúde.
Para Amílcar Soares, da Positivo, associação de apoio a doentes com HIV, o incidente é uma falha deontológica grave e a direcção do Infarmed deve demitir-se.
“Tornar público o nome destas pessoas quando elas não se querem dar a conhecer é um atentado ao direito dessas pessoas. Acho que a direcção do Infarmed, se tivesse um bocadinho de vergonha devia pedir a demissão”.
Luis Mendão, vice-presidente do Grupo Português de Activistas sobre Tratamentos de Sida diz que é cada vez mais habitual que o infarmed recuse medicamentos especiais para portadores de sida e acusa o Infarmed de dar prioridade à contenção de despesas.

As dores femininas

Um estudo do Centro de Investigação e Intervenção Social do ISCTE mostrou que a dor em pacientes do sexo feminino é tida como menos genuína e a sua situação clínica considerada como menos grave e urgente do que a dos homens. Chama-se “Os enviesamentos de sexo nos julgamentos sobre dor lombálgica” e teve como objectivo identificar factores que influenciam os julgamentos de dor dos doentes. A amostra utilizada foi composta por 205 estudantes de enfermagem e os resultados mostraram que os estudantes de enfermagem do sexo masculino efectuam mais enviesamentos de sexo nos julgamentos sobre a genuinidade da dor apresentada pelo/a paciente do que as estudantes do sexo feminino. A responsável por este estudo, Sónia Bernardes, denota que “embora as mulheres reportem sentir mais dores que os homens ao longo das suas vidas, as suas dores são frequentemente desvalorizadas, sub-diagnosticadas ou sub-tratadas comparativamente com as do sexo masculino”. De acordo com a investigadora, “existem razões para crer que a discriminação da mulher com dor comparativamente com o homem não é um fenómeno universal, mas sim dependente de pistas contextuais.” 

Significa isto que temos todos de reflectir como discriminamos nós, técnicos de saúde, em função do género, mesmo com todas as boas intenções de tratamento médico, pois até no diagnóstico e na escuta activa podemos diferenciar homens e mulheres.