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Homossexualidade. Não é uma doença, mas trata-se

por Inês Cardoso, Publicado em 04 de Junho de 2009

 

Psiquiatras exigem que o Colégio da Especialidade esclareça posições sobre terapêutica para mudar a orientação. Bastonário emite parecer ético.

 

O debate faz lembrar um célebre sketch humorístico sobre o aborto. A homossexualidade não é doença. Mas pode ser tratada. Cientificamente, desde 1973 que não é considerada doença. Mas um indivíduo que sofra com a sua orientação sexual pode pedir ao médico que estabeleça “um plano terapêutico” para a alterar.

 

Como o assunto é sério e originou uma petição assinada até agora por 871 técnicos de saúde mental, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM) decidiu enviar aos signatários uma carta para esclarecer a sua posição. Que, salienta, “só o preconceito ou a má-fé poderiam interpretar como homofóbica”.

 

Princípio da polémica: a 2 de Maio, num artigo de um jornal, o presidente do Colégio de Psiquiatria da OM, José Marques Teixeira, considerava que pode ser possível dar resposta a um homossexual que pede ajuda médica para mudar de orientação sexual. Várias organizações solicitaram ao bastonário que se pronunciasse, ao mesmo tempo que o psiquiatra Daniel Sampaio promoveu a petição exigindo também uma clarificação da Direcção da Ordem e “uma tomada de posição do Colégio da Especialidade de Psiquiatria”.

 

Do Colégio de Psiquiatria ainda não houve “tomada de posição técnica” - já que José Marques Teixeira falou “a título pessoal”. O bastonário respondeu às organizações, por escrito, a 14 de Maio e considera que alterar a orientação sexual de “um doente não constitui uma violação ética”.

 

Pedro Nunes destaca que a sua posição é “puramente ética e não técnica”. Que devem ser os psiquiatras a “dirimir as divergências técnicas”. E que a posição não pode ser descontextualizada dos “se” que a antecedem.

 

Os pontos prévios são vários. Começam pela declaração de que a orientação sexual não prefigura “qualquer forma de doença”. Mas “qualquer ser humano é livre de aceitar ou negar a sua orientação sexual e buscar ajuda médica quando dessa atitude lhe resulta sofrimento”. Cabe ao médico “diagnosticar a situação” e “estabelecer um plano terapêutico” que, “respeitando o consentimento informado” do doente, pode ajudar a aceitar a sua orientação ou a “definir a orientação que pretende”.

 

EQUÍVOCOS Daniel Sampaio sublinha que a questão do sofrimento é colocada de uma forma que causa confusão. “Há muitos homossexuais que sofrem e pedem ajuda, mas isso nada tem a ver com reverter a orientação sexual”, afirma, lembrando que a questão “no estrangeiro nem se põe”. O sofrimento, sublinha, é causado pela sociedade.

 

Reenquadrar uma orientação seria sempre “partir do princípio de que há uma doença”. Face à polémica aberta, insiste que a solução é só uma: que o assunto seja debatido “com a máxima urgência” no colégio da especialidade. “Mesmo do ponto de vista pessoal, o presidente do colégio não pode emitir opiniões sem fundamento científico”, alerta.

 

Apesar de já ter recebido a carta do bastonário da Ordem (que começou a ser enviada anteontem aos signatários da petição), Daniel Sampaio afirma não querer fazer comentários sobre a posição de Pedro Nunes. “O que está em causa é uma posição incorrecta do presidente do colégio”. Francisco Allen Gomes e Júlio Machado Vaz, que também assinaram a petição on-line, não tinham recebido, ao final do dia de ontem, a carta do bastonário. “Perplexo” com a polémica, Júlio Machado Vaz assumiu posição através da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, que na semana passada emitiu um comunicado.

 

“Vou-lhe dar um exemplo da minha perplexidade. Uma das situações em que se diz que é possível tratar é na homossexualidade secundária. Eu não faço a mínima ideia do que é a homossexualidade secundária”, afirma ao i.

 

À semelhança de muitos outros signatários, o psiquiatra e sexólogo Francisco Allen Gomes deixou um comentário ao assinar a petição: “Trata-se de um regresso a um passado que não dignificas as ‘terapias’ em causa.”

 

Unânime é o apelo a um fórum alargado, liderado pelo colégio de Psiquiatria e extensível à comunicação social. Um debate “com seriedade, sem preconceitos e tendo por base os actuais conhecimentos, científicos e não só”, como pede a psiquiatra Ana Matos Pires.

Psiquiatras lançaram petição a exigir que Ordem esclarecesse se defende cura para a homossexualidade.

O psiquiatra Daniel Sampaio é um dos signatários da petição sobre “a reconversão da orientação sexual”, que exige uma tomada de posição do Colégio de Especialidade de Psiquiatria da Ordem dos Médicos. “O que nós [signatários] queremos é que não se fale em homossexualidade primária e secundária. Há homossexuais que precisam de acompanhamento, não devido à sua orientação sexual, mas sim de problemas que possam surgir desse facto”, disse ao DN.Segundo Daniel Sampaio, até ao momento, os mais de 1000 signatários da petição ainda não receberam resposta da Ordem. Iniciada em Maio deste ano, a petição exigia que a Ordem clarificasse urgentemente a posição que tem sobre a cura da homossexualidade. No documento, os signatários, como Júlio Machado Vaz , recusavam a classificação de “homossexualidade primária com cunho biológico marcado e homossexualidade secundária para justificar a intervenção médica em homossexuais”. E referem que desde 1973 que a homossexualidade não é considerada doença. Recordam ainda que a Associação Americana de Psiquiatria reprova qualquer intervenção dita de reconversão da orientação sexual. Apesar disso, os signatários esclarecem que não ignoram “o sofrimento psicológico de muitas pessoas LGBT, considerando que não é resultante dos seus comportamentos, afectos ou identidades, antes é determinado por um contexto social marcado pela homofobia que se revela discriminatório”.

Moção de José Sócrates defende igualdade no acesso ao casamento

O Comunicado da Associação ILGA-Portugal
Associação ILGA Portugal congratula-se com o compromisso do actual Primeiro-Ministro

A moção que José Sócrates levará ao Congresso do Partido Socialista afirma como prioridade «o combate a todas as formas de discriminação e a remoção, na próxima legislatura, das barreiras jurídicas à realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo». A Associação ILGA Portugal congratula-se com este compromisso assumido pelo actual Primeiro-Ministro no sentido de remover a actual discriminação no acesso ao casamento. A igualdade passa assim a ser a proposta de José Sócrates e, nas suas palavras, «sem tibiezas, sem meias soluções».

Como a Associação ILGA Portugal tem defendido, a igualdade no acesso ao casamento é uma questão de direitos fundamentais, uma questão de cidadania, uma questão que determina a qualidade da nossa democracia. Trata-se de acabar com a humilhação de muitas mulheres e muitos homens que a própria lei ainda discrimina por causa da sua orientação sexual. Trata-se de afirmar finalmente que o Estado não pode continuar a atribuir a lésbicas e gays uma cidadania de segunda.

O actual Primeiro-Ministro explicou-o também na apresentação pública da moção: «dir-me-ão que o problema é apenas de uma minoria, mas quero dizer o seguinte aos camaradas: o reconhecimento dos direitos e da dignidade de uma minoria é a vitória de todos», acrescentando que este passo é dado em nome «da liberdade, da igualdade e da dignidade individual e da luta contra todos os tipos de discriminação» e concluindo que «com esta mudança seremos um país melhor».

O fim da exclusão de lésbicas e gays no acesso ao casamento exige apenas uma pequena alteração no texto de uma lei, que não implica custos nem afecta a liberdade de outras pessoas. Porém, será um enorme passo no sentido da igualdade e contra a discriminação. E como demonstraram as discussões sobre o voto para as mulheres ou sobre o fim do apartheid racista na África do Sul, o preconceito que existe na sociedade não pode nunca justificar a negação de direitos fundamentais. Pelo contrário, as vozes que inevitavelmente se levantarão contra esta medida vão provar apenas a persistência do preconceito homófobo na sociedade portuguesa e, portanto, reforçar a urgência de lutar contra a discriminação em função da orientação sexual.

Aliás, eliminar a actual discriminação na lei é uma condição necessária para que o Estado possa lutar de forma credível contra a discriminação na sociedade. O fim da discriminação legal de gays e lésbicas será assim o princípio do fim da homofobia.

Mais: estabelecer a igualdade no acesso ao casamento é contribuir de forma particularmente simples para a felicidade de muitas pessoas – e colocará Portugal na liderança do combate contra a discriminação.  Congratulamo-nos por José Sócrates ter assumido este compromisso e apelamos a todos os partidos que ainda não o fizeram para que recusem também a discriminação e participem nesta luta pela Igualdade.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2009
A Direcção e o Grupo de Intervenção Política da Associação ILGA Portugal

Associação ILGA PORTUGAL
Email: [email protected]

Operações transexuais no Hospital de Santa Maria

O acesso à saúde dos transexuais em portugal continua uma questão pendente nos programas do Ministério da Saúde…Este mesmo médico assume que não tem novos cirurgiões a trabalhar com ele e a aprender as suas técnicas. Quem fará as operações em Portugal no futuro?

Entretanto saem pontualmente notícias que vão dando alguma visibilidade a estas questões, embora ainda não consigam tratar os trans pelo sexo desejado e não pelo sexo biológico. Mudar de corpo é bem mais fácil do que mudar mentalidades.

04.11.2008 - 10h24 Lusa
O homem que é operado hoje no Hospital de Santa Maria para mudar o sexo para mulher é o quinto nos últimos três anos a submeter-se a este tipo de cirurgia naquela unidade de saúde, disse o cirurgião João Décio Ferreira.

Segundo disse à Agência Lusa o director do serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, realizaram-se nos últimos três anos quatro cirurgias de mudança de sexo de homem para mulher e três do feminino para o masculino.

O especialista referiu que “enquanto de homem para mulher a situação fica resolvida em uma cirurgia, a mudança de sexo de mulher para homem é muito mais demorada e exige uma série de intervenções”.

O indivíduo que hoje é operado no Hospital de Santa Maria, para mudar o sexo de homem para mulher, poderá regressar à sua vida normal dentro de três semanas, disse o cirurgião João Décio Ferreira.

Explicou também que uma semana após a operação o doente volta ao bloco para uma cirurgia rápida, de 10 a 15 minutos, e passados dois dias terá ‘alta’ clínica.

“Três semanas após a operação poderá estar a fazer a vida normal, depende da profissão, se não exigir muito esforço físico”, adiantou.

A cirurgia de hoje é, segundo João Décio Ferreira, “demorada”, entre quatro a seis horas, e terá a colaboração de um cirurgião geral, que vai retirar uma parte ao intestino delgado para ajudar na construção do novo sexo.

Por esta operação ser demorada e causar “muita perda de sangue”, outras cirurgias, como o aumento dos seios ou a redução da “mação de Adão” (laringe), são feitas posteriormente.

De acordo com o cirurgião plástico, a operação de hoje, a seu cargo, “envolve a remoção do pénis e dos testículos e a construção da vagina aproveitando a pele do pénis e parte da glândula para fazer o clítoris”.

Até chegar ao bloco operatório, o indivíduo que pretende mudar de sexo tem que fazer um longo percurso, que se prolonga por cerca de três anos.

Inicialmente, passa por uma consulta de Psiquiatria dedicada a este tipo de patologia, consulta que se realiza nos Hospitais de Santa Maria, da Universidade de Coimbra e Júlio de Matos.

“Passado um ano, quando há uma convicção, começa-se a fazer a terapêutica hormonal e depois o doente é enviado a outro centro para confirmar o diagnóstico”, disse o cirurgião, adiantando que o processo exige ainda uma autorização da Ordem dos Médicos (OM), sendo o único acto médico no país que carece deste tipo de licença.

Na OM, uma comissão nomeada pelo bastonário analisa todo o percurso clínico do doente e dá o parecer de acordo com as normas internacionais.

O cirurgião explicou, também, que o processo é longo, uma vez que é uma “operação irreversível, não havendo hipóteses de voltar atrás”.

Sobre os custos da operação, desconhece o valor nos hospitais públicos, mas adiantou que no sector privado varia entre 15 mil e 25 mil euros.

“Não é muito representativa na despesa total do Hospital de Santa Maria”, afirmou, adiantando que apenas tem conhecimento de que o único local do país, em termos de hospitais públicos, onde se faz este tipo de operações é naquela unidade de saúde.

Em Portugal e ao contrário do que se passa no resto do mundo, há um maior número de mulheres que querem tornar-se homens: uma média de três casos de mulher para homem e um de homem para mulher.

Como em outras especialidades, a cirurgia de mudança de sexo também tem lista de espera.

O director do serviço de Cirurgia Plástica do Hospital de Santa Maria tem 45 pacientes em acompanhamento: 30 que querem alterar o sexo de mulher para homem e 15 do masculino para o feminino.

Nascem 20 bebés por ano com sexo indefinido

HELENA NEVES
Nem sempre se pode ver se é menino ou menina no momento do nascimento

Desenvolvimento sexual atípico tem solução cirúrgica em Portugal

A simples pergunta “É menina ou menino?” nem sempre tem uma resposta imediata. A dificuldade baseia-se no facto de, anualmente, uma em cada 4500 crianças nascer sem o sexo definido, um “trauma” para os pais bem conhecido dos médicos.

Quando um bebé nasce pode ter um aspecto masculino mas não ter os testículos na bolsa ou ter um pénis que não se formou normalmente porque o orifício (uretra) não se desenvolveu. Há outros casos em que a criança tem um clítoris maior do que aquilo que seria de esperar e os pequenos lábios não se abriram, não se sabendo se é uma menina em que o clítoris cresceu muito ou um menino em que o pénis não se desenvolveu normalmente.

Estes casos são alguns dos exemplos das doenças do desenvolvimento sexual, antigamente designadas por intersexos, que se estima que afectem cerca de 20 crianças portuguesas por ano, disse em entrevista à agência Lusa o chefe de serviço de cirurgia pediátrica do Hospital D. Estefânia, Paolo Casella.

“Quando olhamos para um bebé com estas características, a primeira coisa que temos de perceber é se ele é masculino ou feminino do ponto de vista físico e genético”, explicou.Por outro lado, é importante saber se a mãe fez alguns tratamentos hormonais ou se começou a produzir hormonas masculinas devido à existência de um tumor.

“O que acontece é que a mãe está a gerar uma criança do sexo feminino, mas essa criança está a ser influenciada por hormonas do sexo masculino produzidas pela mãe ou pelo feto e a criança vai virilizar”, adiantou o cirurgião.

“Dependendo dos genes e das hormonas, o embrião vai desenvolver–se em testículos ou ovários”, sublinhou o médico, frisando que a maioria dos casos tem solução. Uma delas é uma cirurgia correctiva inovadora que está a ser praticada há mais de um ano em Portugal e que consiste em não retirar os corpos cavernosos que formam o pénis e escondê-los por debaixo dos grandes lábios da vagina.

“Antigamente cortava-se ou dobrava-se os corpos cavernosos, só que quando havia erecções, eram dolorosas”, disse. A nova cirurgia permite à pessoa reverter, caso não se sinta de acordo com a sua identidade sexual, justificou o médico.

Paolo Casella mostrou uma das duas intervenções cirúrgicas deste tipo que realizou no Hospital D. Estefânia, em Lisboa. Tratou-se de uma menina com menos de um ano que foi virilizada e que os pais quiseram operar, porque vivem num ambiente onde as pessoas não aceitam esta situação.

Apesar de esta intervenção cirúrgica representar um passo em frente no âmbito do tratamento destas situações, o médico ressalva que “nem sempre é possível de realizar, nem sempre deve ser feita”.

Este é um dos argumentos da Sociedade Norte-americana de Intersexo, que defende que a maioria das operações feitas na infância deve ser deixada para quando o jovem já é capaz de decidir sobre o que quer fazer.

Mas a precocidade da operação resulta muitas vezes da vontade dos pais e dos médicos em corrigir a situação.Para os pais é sempre um “trauma” quando são confrontados com uma situação destas e pedem aos médicos para resolver o problema o mais rapidamente possível.

“É uma emergência social”, frisou Paolo Casella, afirmando que estas doenças têm de ser tratadas “precocemente” por uma equipa multidisciplinar (endocrinologista pediátrico, pediatra, geneticista, pedopsiquiatra e cirurgião). A decisão é sempre tomada em conjunto com os pais e baseada em vários exames médicos para se obter um diagnóstico mais preciso.LUSA

Números do INE para 2007 confirmam baixa da natalidade

 População portuguesa entrou em crescimento natural negativo 15.05.2008 - 09h11 Bárbara Simões, Natália FariaOlhando para os dados disponíveis, nas mais recentes séries cronológicas do Instituto Nacional de Estatística (INE), que remontam a 1900, não se encontra outro ano em que em Portugal tenha acontecido o que agora se sabe que aconteceu em 2007: o número de mortes (103.727) superou o de nascimentos (102.213). A diferença é de 1514.

É certo que, para alguns períodos, os dados são apresentados apenas de cinco em cinco anos, mas os anos posteriores a 1990 - cenário de grandes quebras na natalidade - estão lá todos; e, apesar da tendência decrescente do número de nados-vivos, até 2007 os que nascem são sempre mais do que os que morrem.

Os números do INE para o ano passado são provisórios e foram publicados no último “Boletim Mensal de Estatística”, disponível no portal do instituto. Não causam grande surpresa ao presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Mário Leston Bandeira: “Estava mais ou menos à vista que íamos entrar num ciclo de crescimento natural negativo. É inevitável e é mais um passo no declínio.”

Saldo natural negativo
O crescimento natural da população traduz a diferença entre nados-vivos e óbitos (a outra forma de crescimento demográfico está associada à população migratória). Nos últimos anos, explica Leston Bandeira, “o saldo natural tem vindo a reduzir-se” e a tendência que se esboça para o futuro é que Portugal possa vir a seguir o que já está a acontecer noutros países europeus e apresente um saldo natural negativo.

Dois factores de enorme peso contribuem para esse rumo, lembra: por um lado, a natalidade está em queda e nascem cada vez menos bebés; por outro, o envelhecimento da população vai fazendo aumentar o número de óbitos (há mais “candidatos”, uma vez que o grupo dos mais velhos tem um peso cada vez maior).

No ano passado, morreram 103.727 pessoas; tinham sido 101.990 em 2006. Nos últimos dez anos, este valor tem oscilado entre 100 mil e pouco mais de 107 mil, sendo difícil detectar uma tendência.

“Teste do pezinho”
A diminuição de nascimentos volta a ser clara no último ano: menos 3236 bebés do que em 2006. Os números do Instituto Nacional de Estatística confirmam uma realidade antecipada ao PÚBLICO, logo em Janeiro, pelo presidente da Comissão Nacional do Diagnóstico Precoce, Rui Vaz Osório.

Uma vez mais, o número de “testes do pezinho” tinha diminuído drasticamente de um ano para o outro - e isso, numa altura em que a taxa de cobertura do rastreio anda muito próxima dos 100 por cento, só pode significar que tinham nascido muito menos bebés.

Tem sido assim várias vezes nos últimos anos e voltou a ser assim em 2007: o Instituto de Genética Médica Jacinto de Magalhães, no Porto, que centraliza a análise das amostras de sangue recolhidas através da picada no calcanhar do recém-nascido, logo nos primeiros dias de vida, tinha estudado menos 3030 amostras do que no ano anterior. O total tinha caído de 105.125 para 102.095.

É por isso agora, também sem surpresa, que Vaz Osório toma conhecimento do número de nascimentos (provisório) que consta das estatísticas oficiais. Para já, 2008 parece estar a correr melhor. Nos primeiros três meses deste ano, o rastreio - que actualmente despista 24 doenças hereditárias do metabolismo e o hipotiroidismo congénito - foi feito a 25.471 crianças, mais 453 do que as picadas no primeiro trimestre do ano passado.

Vaz Osório não arrisca previsões, nem para o resto do ano nem para o futuro próximo. “É um bocado difícil… Mas dá-me a impressão de que estamos quase a bater no fundo. Baixar mais do que isto [no número de nascimentos] é muito difícil, já estamos em desequilíbrio…”

Especialistas pedem mais apoio à natalidade
As mulheres portuguesas são das que mais trabalham fora da casa na União Europeia. São mal pagas e, muitas vezes, penalizadas por estarem grávidas. Os maridos pouco ajudam em casa. A rede pública de creches e jardins-de-infância é insuficiente e as medidas de conciliação entre trabalho e vida familiar são uma miragem. As razões por detrás da queda de natalidade em Portugal estão identificadas. Urge agora, segundo os especialistas ouvidos pelo PÚBLICO, que o Governo dedique à protecção da maternidade o mesmo empenho que aplicou à redução do défice. Até porque, se nada for feito, dentro de 25 anos Portugal (que já é o sétimo país mais envelhecido do mundo) terá 242 idosos por cada cem jovens, conforme alertou o Instituto Nacional de Estatística (INE).

Primeiro, as causas. Para a média nacional de 1,36 crianças por mulher que o INE registou em 2006, contribuíram, além dos já apontados, factores como “o clima de pessimismo que leva a que as perspectivas das pessoas poderem ter uma vida melhor sejam muito reduzidas”, adianta Mário Leston Bandeira, presidente da Associação Portuguesa de Demografia (APD), que recua até 1983 para apontar no calendário o primeiro ano em que a taxa de natalidade ficou abaixo dos 2,1 filhos por mulher necessários para garantir a substituição de gerações. “Na altura, quase ninguém deu por isso”, sublinhou, antes de formular a pergunta que anda na cabeça de todos: “Quando tivermos 30 por cento da população com mais de 65 anos, quem irá pagar as pensões e os cuidados de saúde a que essas pessoas têm direito?”. Assim, insiste, fica claro que “sai muito mais barato investir na natalidade do que depois arcar com as despesas de uma população fortemente envelhecida”.

Convencer as mulheres?
Mas, afinal, como é que se convence as mulheres portuguesas a terem mais filhos? “Garantindo a integração dos jovens no mercado de trabalho, porque, enquanto a actual precariedade se mantiver, estes não terão condições para constituir família e procriar”, responde Leston Bandeira. Considerando que as recentes medidas de apoio à natalidade adoptadas pelo Governo são benéficas, “até por ajudarem a falar de uma questão que estava esquecida”, o presidente da APD considera que é necessário ir muito mais longe na protecção à maternidade. “Gostava de saber até que ponto o novo Código de Trabalho contempla medidas para que as mulheres possam conciliar o trabalho com a vida familiar. As empresas que tenham creches ou políticas amigas da família são recompensadas? As que não têm são castigadas por isso?”

Na mesma linha de ideias, Ana Fernandes, demógrafa e docente na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, desvia o olhar para a realidade francesa. “Os franceses tinham uma taxa de natalidade de 1,7 e conseguiram subir para os 2,1 crianças por mulher”, sublinha. Por cá, e devido à crise económica, não será fácil atribuir um subsídio às mulheres que queiram, por exemplo, contratar alguém para tomar conta das crianças em casa, como acontece em França. Mas “pode-se e deve-se fazer mais ao nível dos infantários e das creches públicas, alargando a sua taxa de cobertura e tornando os preços mais acessíveis”, sugere a especialista, para afirmar convicta: “Se houvesse condições, haveria muito mais mulheres a ter mais filhos e a não retardar tanto o nascimento do primeiro filho.”

“Há 20 por cento de portuguesas em idade fértil que gostariam de ter três ou mais filhos e só cinco por cento têm”, corrobora Fernando Castro, da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), para quem as recentes medidas do Governo no apoio à natalidade são uma gota de água. “O que era importante, por exemplo, era indexar as reformas em função do número de filhos”, preconizou. E explicou: “O Governo paga às famílias de acolhimento 300 euros por cada criança, valor esse que depois conta para a reforma. Não pedimos que aos pais biológicos paguem essa quantia, mas pedimos que, quando chegar a altura de fazer as contas para a reforma, estas se façam como se os pais tivessem ganho aqueles 300 euros por mês”. Ainda em sede fiscal, o presidente da APFN defende que os casais deveriam poder deduzir até seis mil euros por filho, à semelhança do que se passa com os pais separados e que deduzem o montante pago a título de pensão de alimentos.

Menos filhos a norte
Tradicionalmente mais conservadora, a Região Norte é, actualmente, a região onde as mulheres têm menos filhos, lembrou Mário Leston Bandeira. “O índice de fecundidade é de apenas um filho por mulher, abaixo da média nacional”, adiantou aquele responsável.

Explicações possíveis: “O sistema de subsistência na região, muito assente na agricultura e na indústria, entrou em crise e o rendimento das famílias baixou.” Não menos importante, segundo o presidente da Associação Portuguesa de Demografia, foi a perda de influência da Igreja Católica. “A Igreja Católica portuguesa tinha ali a sua base de apoio, mas foi perdendo grande parte da sua influência. Hoje, o discurso contra o contraceptivo e o preservativo já não convence ninguém”, conclui.

“Há 20 por cento de portuguesas em idade fértil que gostariam de ter três ou mais filhos, e só cinco por cento têm”, refere a APFN.

Imigrantes podem atrasar envelhecimento do país
Já foi à custa dos imigrantes que Portugal conseguiu passar a barreira dos 10,5 milhões de habitantes. E poderão ser os imigrantes também a solução para “atrasar” o envelhecimento progressivo da população portuguesa. “A entrada de imigrantes pode ajudar e muito a desacelerar o processo de envelhecimento mas, para isso, há que garantir a integração desses imigrantes”, afirma a demógrafa Ana Fernandes. Considera, porém, que “tal só acontecerá, se o Estado não deixar a integração dos imigrantes nas mãos do capitalismo selvagem”.

Que os estrangeiros que escolhem Portugal como país de acolhimento poderão inverter a queda da natalidade e, consequentemente, o envelhecimento populacional sugere-o a “cambalhota” estatística registada nos últimos anos e que colocou a região do Algarve como a “campeã” da natalidade, com um índice de fecundidade de 1,8, ou seja, acima da média nacional das 1,36 crianças por mulher. “É uma inversão interessante e que penso terá que ver com o facto de no Algarve viveram muitos imigrantes e, claro, não estou a falar dos seniors que ali vão gozar a sua reforma, mas daqueles que chegam para trabalhar”, afirma Mário Leston Bandeira, da Associação Portuguesa de Demografia. Também ele pensa que Portugal vai ter de se preparar melhor para acolher os imigrantes. “É preciso dar-lhes condições para se poderem instalar, receber a família e ter direitos: se assim for, eles darão um contributo importante para a natalidade.”

Durante o ano de 2006, e segundo o INE, 62.332 estrangeiros solicitaram autorização de residência em Portugal. Destes, 46,8 por cento tinham idades compreendidas entre 25 e 39 anos de idade e 14,7 por cento tinham entre zero e 14.

De novo os grupos de risco…E o risco dos grupos!

No VIH/SIDA falar de grupos vulneráveis à infecção, grupos com vulnerabilidades específicas, ou os grupos de risco que a prevenção tanto tenta e tentou combater, traz o risco da estigmatização de certos grupos sociais…Mas do ponto de vista da epidemia - fará sentido? E a prevenção generalizada atingirá alguém?

No Jornal o Público, de dia 9 de Junho de 2008:

Pela primeira vez desde o início da doença, a Organização Mundial da Saúde (OMS) admite que o risco de uma epidemia global de sida entre os heterossexuais deixou de fazer sentido. A excepção é o continente africano, onde em países como a Swazilândia 40 por cento da população adulta está infectada.
Na edição de ontem do jornal britânico The Independent a OMS reconhece que a estratégia global usada pelas principais organizações de combate à doença poderá ter errado o alvo. O epidemiologista que encabeça o combate ao vírus do HIV na OMS, Kevin De Cock, afirma que a forma de olhar a luta contra a doença se alterou. Se até agora o vírus da sida era considerado uma ameaça à generalidade da população, neste momento reconhece-se que, fora da África subsariana, se pode voltar a falar de grupos de risco, ou seja a aposta da prevenção deve ser feita entre os homens que têm sexo com homens, utilizadores de drogas injectáveis ou entre prostituta(o)s e seus clientes.
É muito pouco provável a existência de uma epidemia entre os heterossexuais de outros países [que não os africanos], afirmou Kevin De Cock. Há dez anos muitos defendiam que haveria uma epidemia generalizada na Ásia com a populosa China no centro das preocupações. Isso já não é provável. Mas temos de ser cuidadosos. Poderá haver alguns surtos nalgumas áreas, admite.
Em 2006, o relatório do fundo global das Nações Unidas para o combate ao HIV, malária e tuberculose alertava para a situação alarmante da propagação da doença na Rússia, onde um por cento da população estava infectada. Apesar dos números serem semelhantes aos registados em 1991 na África do Sul onde o vírus atinge já 25 por cento da população Kevin de Cock desdramatiza: “Acho pouco provável que haja uma grande propagação da doença entre os heterossexuais. Mas haverá certamente alguma”.
O relatório conjunto da OMS e da ONUSida, publicado este mês, é bem revelador do impacto da doença no mundo, onde há 33 milhões de pessoas infectadas com o vírus, das quais 2,5 milhões são novas infecções. Nos países em desenvolvimento estima-se que existem cerca de 9,7 milhões de pessoas a precisar de tratamento anti-retroviral, mas apenas três milhões conseguem tratamento.
Em Portugal  que continua a bater recordes europeus no número de infecções anuais por milhão de habitantes a principal forma de propagação do vírus é através das relações heterossexuais. É por isso com alguma cepticismo e cautela que os clínicos reagem a esta mudança na forma de encarar a propagação da doença..
Esta mudança de discurso é o desdramatizar da catástrofe no número de novas infecções que se previa há alguns anos em países como a China. Afinal não vamos ter um cenário tão negro, explica José Vera, responsável pela unidade de tratamento de HIV/sida do Hospital de Cascais. Mas isto não quer dizer que a situação não se vá alastrando, alerta o especialista. A via heterossexual será sempre o reservatório futuro da infecção pelo HIV, diz o especialista.
O mesmo defende o responsável pelo Laboratório de Virologia do Hospital Egas Moniz, lembrando que em Portugal as relações sexuais entre heterossexuais continuam a ser a principal forma de contágio, alerta. E acrescenta que é fundamental apostar na informação e formação.
Kevin de Cock diz que a grande aposta da prevenção da doença deve ser feita junto dos principais grupos de risco
(Público - 09.06.2008 )

Função sexual e sensibilidade genital e genitoplastia na hiperplasia adrenal congénita

O Journal of Urology e uma equipa de investigadores (Crouch, Liao, Woodhouse & Conway, 2008 Feb;179(2):634-8) publicaram recentemente , no Reino Unido um estudo que incluia 38 mulheres, 28 com história de hiperplasia adrenal congénita e 10 como grupo de controlo, e analisou a função sexual e a sensibilidade genital, depois da genitoplastia feminizante, através da história médica em retrospectiva, dos regitos médicos e de um questionário estandartizado. A sensibilidade vaginal e clitoridiana foram também medidas sensorialmente.

O grupo que sofreu a genitoplastia feminizante (24 mulheres) tinha uma perturbação significativa do clítoris, comparadas com o grupo de controlo, sem que houvesse diferenças significativas no canal vaginal superior, em que a cirurgia não foi feita em nenhuma mulher da pesquisa. O limiar de sensibilidade das 4 mulheres com hipoplasia adrenal congénita, que não tinham sofrido a cirurgia feminizante, era semelhante ao grupo de controlo.  Assim, a perturbação sexual parecia mais grave nas mulheres que sofreram a genitoplastia, muito evidente nas dificuldades de penetração vaginal e na frequência de relações sexuais.

Tomar a decisão de realizar esta cirurgia nas bebés femininas deve ser cauteloso e deve informar-se bem os pais das consequências reais de permitir tal operação, pois este artigo conclui, como outros o fizeram antes, que a sensibilidade nas áreas onde a cirurgia intervém fica alterada significativamente e a função sexual alterada.

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