Archive for Janeiro, 2009

Uma no cravo e outra na ferradura…

Esta sexta-feira, a Assembleia da República discutiu um projecto apresentado pelo Bloco de Esquerda que visava fazer uma recomendação a todos os sítios de recolha de dádivas de sangue a não recusar potenciais dadores com base na sua orientação sexual. Segundo alguns deputados do Partido Socialista, a discriminação na doação de sangue para homossexuais masculinos não existe. Isto apesar das inúmeras queixas oficiais que têm sido feitas por homossexuais nas devidas instituições.

O projecto ontem apresentado, que não era um projecto-lei, apenas uma recomendação foi chumbado pela maioria socialista, recolhendo os votos a favor do BE, PCP, Verdes e PSD e a abstenção do CDS-PP. Na mesma semana em que Sócrates apresenta a sua moção ao congresso do partido, incluíndo a vontade de legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, chumba uma proposta importante para acabar com uma das mais inceitáveis discriminações a homossexuais em Portugal, mesmo tendo a direita votado, maioritariamente a favor!

Há um ano, os médicos pela escolha realizaram uma iniciativa pública e emitiram um comunicado contra esta discriminação grosseira. Ver aqui.

Moção de José Sócrates defende igualdade no acesso ao casamento

O Comunicado da Associação ILGA-Portugal
Associação ILGA Portugal congratula-se com o compromisso do actual Primeiro-Ministro

A moção que José Sócrates levará ao Congresso do Partido Socialista afirma como prioridade «o combate a todas as formas de discriminação e a remoção, na próxima legislatura, das barreiras jurídicas à realização do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo». A Associação ILGA Portugal congratula-se com este compromisso assumido pelo actual Primeiro-Ministro no sentido de remover a actual discriminação no acesso ao casamento. A igualdade passa assim a ser a proposta de José Sócrates e, nas suas palavras, «sem tibiezas, sem meias soluções».

Como a Associação ILGA Portugal tem defendido, a igualdade no acesso ao casamento é uma questão de direitos fundamentais, uma questão de cidadania, uma questão que determina a qualidade da nossa democracia. Trata-se de acabar com a humilhação de muitas mulheres e muitos homens que a própria lei ainda discrimina por causa da sua orientação sexual. Trata-se de afirmar finalmente que o Estado não pode continuar a atribuir a lésbicas e gays uma cidadania de segunda.

O actual Primeiro-Ministro explicou-o também na apresentação pública da moção: «dir-me-ão que o problema é apenas de uma minoria, mas quero dizer o seguinte aos camaradas: o reconhecimento dos direitos e da dignidade de uma minoria é a vitória de todos», acrescentando que este passo é dado em nome «da liberdade, da igualdade e da dignidade individual e da luta contra todos os tipos de discriminação» e concluindo que «com esta mudança seremos um país melhor».

O fim da exclusão de lésbicas e gays no acesso ao casamento exige apenas uma pequena alteração no texto de uma lei, que não implica custos nem afecta a liberdade de outras pessoas. Porém, será um enorme passo no sentido da igualdade e contra a discriminação. E como demonstraram as discussões sobre o voto para as mulheres ou sobre o fim do apartheid racista na África do Sul, o preconceito que existe na sociedade não pode nunca justificar a negação de direitos fundamentais. Pelo contrário, as vozes que inevitavelmente se levantarão contra esta medida vão provar apenas a persistência do preconceito homófobo na sociedade portuguesa e, portanto, reforçar a urgência de lutar contra a discriminação em função da orientação sexual.

Aliás, eliminar a actual discriminação na lei é uma condição necessária para que o Estado possa lutar de forma credível contra a discriminação na sociedade. O fim da discriminação legal de gays e lésbicas será assim o princípio do fim da homofobia.

Mais: estabelecer a igualdade no acesso ao casamento é contribuir de forma particularmente simples para a felicidade de muitas pessoas – e colocará Portugal na liderança do combate contra a discriminação.  Congratulamo-nos por José Sócrates ter assumido este compromisso e apelamos a todos os partidos que ainda não o fizeram para que recusem também a discriminação e participem nesta luta pela Igualdade.

Lisboa, 19 de Janeiro de 2009
A Direcção e o Grupo de Intervenção Política da Associação ILGA Portugal

Associação ILGA PORTUGAL
Email: [email protected]

Ronaldo entra em vídeo contra a homofobia



Inglaterra. Beckham, Rooney e Ferdinand também alinham

Plano é evitar cânticos discriminatórios e abrir consciências

Num submundo dominantemente de homens, a homofobia é um dos temas mais fechados do futebol. Para o abrir às consciências, e para lutar contra a discriminação e preconceitos, uma associação de defesa dos direitos de homossexuais resolveu pedir ajuda à federação inglesa e criar um vídeo com estrelas como Cristiano Ronaldo, David Beckham ou Wayne Rooney para promover a tolerância e acabar com o estigma que perseguiu Justin Fashanu, o único profissional a assumir em Inglaterra a homossexualidade - suicidou-se em 1998.

“Sei que há um grupo de futebolistas homossexuais que não se sentem confortáveis em se assumir neste momento”, diz Peter Tatchell, dirigente da Outrage!, associação que defende os direitos dos gays em Inglaterra. “Este vídeo pode ser o precursor desse acontecimento, e, se for bem recebido, suspeito que possa dar a alguns futebolistas a confiança para pensar em assumir a sua sexualidade”, juntou Tatchell , que entretanto confirmou que, através da federação inglesa, já foram angariados cerca de 21 mil euros para uma extensa campanha de sensibilização que pretende exibir um vídeo nos estádios e nas escolas inglesas, além de ser posto a circular na Internet.

“O plano é reunir várias estrelas a falar contra a homofobia, de forma a que os cânticos insultuosos se tornem tão estúpidos como os cânticos racistas”, prosseguiu Peter Tatchell. O dirigente da Outrage!, depois, anunciou alguns dos muitos nomes de futebolistas que se associaram ao projecto de sensibilização: David Beckham, Cristiano Ronaldo, Rio Ferdinand, Peter Crouch, David James, Wayne Rooney, John Terry, Frank Lampard, Theo Walcott e Michael Owen.