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Nascem 20 bebés por ano com sexo indefinido

HELENA NEVES
Nem sempre se pode ver se é menino ou menina no momento do nascimento

Desenvolvimento sexual atípico tem solução cirúrgica em Portugal

A simples pergunta “É menina ou menino?” nem sempre tem uma resposta imediata. A dificuldade baseia-se no facto de, anualmente, uma em cada 4500 crianças nascer sem o sexo definido, um “trauma” para os pais bem conhecido dos médicos.

Quando um bebé nasce pode ter um aspecto masculino mas não ter os testículos na bolsa ou ter um pénis que não se formou normalmente porque o orifício (uretra) não se desenvolveu. Há outros casos em que a criança tem um clítoris maior do que aquilo que seria de esperar e os pequenos lábios não se abriram, não se sabendo se é uma menina em que o clítoris cresceu muito ou um menino em que o pénis não se desenvolveu normalmente.

Estes casos são alguns dos exemplos das doenças do desenvolvimento sexual, antigamente designadas por intersexos, que se estima que afectem cerca de 20 crianças portuguesas por ano, disse em entrevista à agência Lusa o chefe de serviço de cirurgia pediátrica do Hospital D. Estefânia, Paolo Casella.

“Quando olhamos para um bebé com estas características, a primeira coisa que temos de perceber é se ele é masculino ou feminino do ponto de vista físico e genético”, explicou.Por outro lado, é importante saber se a mãe fez alguns tratamentos hormonais ou se começou a produzir hormonas masculinas devido à existência de um tumor.

“O que acontece é que a mãe está a gerar uma criança do sexo feminino, mas essa criança está a ser influenciada por hormonas do sexo masculino produzidas pela mãe ou pelo feto e a criança vai virilizar”, adiantou o cirurgião.

“Dependendo dos genes e das hormonas, o embrião vai desenvolver–se em testículos ou ovários”, sublinhou o médico, frisando que a maioria dos casos tem solução. Uma delas é uma cirurgia correctiva inovadora que está a ser praticada há mais de um ano em Portugal e que consiste em não retirar os corpos cavernosos que formam o pénis e escondê-los por debaixo dos grandes lábios da vagina.

“Antigamente cortava-se ou dobrava-se os corpos cavernosos, só que quando havia erecções, eram dolorosas”, disse. A nova cirurgia permite à pessoa reverter, caso não se sinta de acordo com a sua identidade sexual, justificou o médico.

Paolo Casella mostrou uma das duas intervenções cirúrgicas deste tipo que realizou no Hospital D. Estefânia, em Lisboa. Tratou-se de uma menina com menos de um ano que foi virilizada e que os pais quiseram operar, porque vivem num ambiente onde as pessoas não aceitam esta situação.

Apesar de esta intervenção cirúrgica representar um passo em frente no âmbito do tratamento destas situações, o médico ressalva que “nem sempre é possível de realizar, nem sempre deve ser feita”.

Este é um dos argumentos da Sociedade Norte-americana de Intersexo, que defende que a maioria das operações feitas na infância deve ser deixada para quando o jovem já é capaz de decidir sobre o que quer fazer.

Mas a precocidade da operação resulta muitas vezes da vontade dos pais e dos médicos em corrigir a situação.Para os pais é sempre um “trauma” quando são confrontados com uma situação destas e pedem aos médicos para resolver o problema o mais rapidamente possível.

“É uma emergência social”, frisou Paolo Casella, afirmando que estas doenças têm de ser tratadas “precocemente” por uma equipa multidisciplinar (endocrinologista pediátrico, pediatra, geneticista, pedopsiquiatra e cirurgião). A decisão é sempre tomada em conjunto com os pais e baseada em vários exames médicos para se obter um diagnóstico mais preciso.LUSA